(jeju, à volta da uma da tarde)
é chinesa, perguntou. foi a primeira vez que me fizeram essa pergunta. não, não sou. ou até sou, mas isso ninguém compreenderia. eu podia ser outra coisa qualquer, até podia estar do outro lado daquela montra, vestida a seda, saia de volume e cintura alta. e no peito também punha aquela espécie de laço de casório. a senhora nada se importou em não saber o que eu era e deixou-se estar entre mim e as águas do sanjicheon. nós as duas e muitos mais com quem eu não podia falar. e mais flores sem nome. ela bebia qualquer coisa que só podia ser álcool porque só o álcool nos pode deixar tão sóbrios aos noventa anos. o sol batia certo na nossa cara, eu olhei para ela e pus-me a pensar na máquina de fazer espanhóis do valter hugo mãe e no senhor que foi parar a um lar porque sim. e a pensar que a pior parte de um livro é chegar ao fim. e a pior parte da vida também é chegar ao fim. a senhora olhou para cima e apanhou um ramo de inverno com as mãos em concha. e eu esqueci-me que ia fumar.
Posted on March 5, 2013
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