adeus pequim

(pequim, três da tarde)

adeus lili, pequena imperatriz, que fez de mim irmã e gente de chongqing, adeus guo ping, pirata das antiguidades, fada yao, que tão bem tem cuidado da língua portuguesa, e adeus professora ma, mestre nas coisas do arco-da-china, amante de um cálice de porto e responsável pelos meus primeiros caracteres chineses. adeus rés-do-chão de dongwangzhuang, o bairro do gato salsa. dongwangzhuang é velho, e desinteressante, mas tem os pregões do homem de fato-macaco e bicicleta. mais uma vez adeus ao hutong que morreu nos meus braços, e que levou para sempre as noites de primavera na banca de tofu da senhora wan. este é também um adeus a quem já cá não está, e que chegou numa manhã de junho num grande pássaro só para me ver. não sei como se diz adeus a pequim, porque parece quase absurdo tentar dizer adeus a qualquer coisa que nos domina, e que tem o poder de fazer partir o avião sem mim, e de me deixar aqui, mais uma vez, ainda em pequim. obrigada a todos que estiveram ao meu lado, são muitos nomes. obrigada pequim, não te esqueças de tiananmen.