de chengdu, província de sichuan, china

(chengdu, seis da tarde)

casa de chá shao cheng, parque do povo

ela vem ter comigo e quer tanto falar inglês, que não me deixa espaço para o mandarim. usa os braços finos, longos, e a bater no peito, para traduzir palavras. it´s green tea, dear, vai acabar por conseguir dizer. traz um vestido estampado, são flores, é apertado na cintura; os ténis, pretos e uma risca verde, não combinam, mas eu era capaz do mesmo. pela tarde vai continuar a olhar-me de uma mesa lá ao fundo, acompanhada de uma amiga, de um homem de barba branca, uma câmara fotográfica antiga.
eu vou ficar sentada na mesma cadeira de bambu a ouvir uma entrevista. o sol sempre a bater, o dia já sem chuva. na mesa, o termo com água a ferver, a xícara com o desenho de uma rosa. o cigarro no chão.
na casa de chá shao cheng, no parque do povo, as empregadas continuam a circular de bata branca, os rapazes da mesa ao lado a jogar mahjong, um casal escreve a quatro mãos num bloco de notas, e um grupo de homens e mulheres mantém-se sempre por perto, a bater uma espécie de chocalho, enquanto se oferecerem para limpar os ouvidos de quem passa. trazem uma lanterna presa à testa.