de macau

Posted on December 31, 2022

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algumas ideias soltas no último dia do ano. 1. macau parece uma daquelas árvores com uma curvatura na base, que, flectidas e meio empenadas, aparentam viver em contínuo esforço, suponho que à procura de normalidade, de verticalidade. pronto, pronto, há dias assim – sobretudo nos últimos três anos – em que tudo me parece um valente delírio. ontem foi mais ou menos isto. 2. esta manhã acordei para um dia de folga, com uma torrada e um café servidos à mesa, a carmo ainda na cama a trautear qualquer coisa indistinta, e eu com algum espaço para ler. depois acabou por se impor, então mamou, elaborou formas com as mãos, voltou a adormecer. não me queixo de falta de tempo, mas o início deste dia foi grandioso. 3. a palavra histeria tem origem no termo grego ‘hystera’ que quer dizer útero, e, nesse sentido, há uma série de procedimentos médicos que começam com esta mesma raiz: histerectomia, a extracção cirúrgica do útero, e histeroscopia, exame no interior do útero. “durante séculos, e até à idade média, o útero era tido como um órgão flutuante que viajava pelo corpo da mulher, provocando-lhe alterações de humor: nervosismo, desmaios, ansiedade e até respostas na ponta da língua e, claro, desejo sexual reprimido. o útero imprevisível chegou até a ser apontado como o motivo do movimento sufragista”, escreve patrícia lemos, autora de “não é só sangue”, livro que estou a ler e que devia ser obrigatório. não mudou tanta coisa desde então. 4. ainda sobre macau: não há outro lugar onde gostasse mais de estar. até essas árvores – as flectidas – acabam por alcançar a linearidade de forma bastante majestosa. 5. a carmo acordou, está a olhar para mim, a cantar de novo, a encher a fralda, a pedir mama. 6. feliz ano novo, pessoal, be happy.

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